3.3.09

O lado Fashion de Darwin


(participação especial: Stefan Alexa)

Na semana passada aconteceu por aqui na capital britânica a London Fashion Week.
Instalada no jardim frontal do belo Natural History Museum, mesmo local que abriga também a interessante exposição sobre o processo criativo que levou Charles Darwin a conceber uma das grandes Idéias de todos os tempos: a Teoria da Evolução.

Ao passar caminhando em frente ao local, fiquei indagando sobre a ironia destes dois mundos (a moda e a natureza) terem sido colocados juntos ao mesmo tempo, no mesmo lugar.

Assim como na natureza, na moda o sucesso na luta pela sobrevivência, ou mais, pela “perpetaução da espécie” também está sujeito a adaptablidade de seus protagonistas ao meio em que vivem ao longo do tempo.

Graças a suas características adaptativas junto ao meio ambiente, tartarugas e jacarés, rastejam pela a Terra por mais de 200 milhões de anos, sem que para isto tenham se ‘reinventado radicalmente’ ao longo de sua existência. Ao contrário, como se sabe, o sucesso de espécies como estas é fruto de um meticuloso e delicado processo adaptativo, transmitido por gerações.

No mundo da moda, Yves St. Lauren (YSL) e Karl Lagerfeld (Chanel) são profissionais que inovaram e evoluíram em seus estilos sem que perdessem o “fio da meada” da essência de suas marcas. Com visão e versatilidade acompanharam e muitas vezes anteciparam tendências, enquanto mantinham profunda coerência com os valores construídos para suas marcas. E hoje aí estão, clássicos? Possivelmente, mas mais quentes do que nunca! Enfim: evoluíram com o tempo, disciplina e algo de coragem.

No livro “The Selfish Gene”, sobre a Teoria da Evolução, Richard Dawkins identifica diferentes sistemas de evolução: biológicos (o mundo natural), e socioculturais (como no mundo da moda), mas ambos são governados pelos mesmos princípios bio-econômicos:

1) A sobrevivência é sempre específica de um determinado contexto;
2) A eficiência é imperativa;
3) Todas as espécies desenvolvem estratégias específicas (trabalham juntas ou formam parcerias simbióticas);
4) Concorrência;

Não é à toa que parte da inspiração de Darwin para conceber sua teoria veio do campo econômico, com os estudos de Thomas Malthus sobre as dinâmicas das empresas, da sociedade e da economia no século XVIII (“Princípios de Economia Política” – 1820).

Paradoxalmente os exemplos aqui trazidos poderiam nos levar a rápida conclusão de que a Natureza nos ensina que o tempo e paciência são grandes formas de se inovar, adaptar-se e evoluir com segurança e eficiência para evitar o risco da extinção no negócio da moda.

Entretanto em um outro segmento da moda, a consagrada marca Levi’s vem, nos anos recentes, amargando momentos difíceis em seu negócio. Como um majestoso dinossauro, a Levi’s inaugurou e reinou absoluta a moda do varejo de jeans. Mas novos tempos trouxeram novas espécies mais adaptáveis ao volátil e segmentado mercado contemporâneo. Novos gostos, estilos, cortes, pulverizaram um mercado de escalas, produções e distribuições industriais, viabilizando assim pequenas confecções e boutiques, que passaram a ocupar a cena da moda-jeans pelo mundo todo. Menores e mais ágeis, como um bando de ‘velociraptors’, confecções como a Diesel, re-definiram a moda em novos termos: pequenas quantidades, diversidade de cortes, edições limitadas, trabalho com uma diversidade de designers, ou eficientes processos logísticos globais, no caso de distribuidores como ZARA e H&M.

Diferente da Teoria da Evolução que coloca o tempo como ingrediente fundamental do paciente e disciplinado processo de inovação (evolução), o mundo em que vivemos hoje, seja o das leis dos negócios, seja o das leis naturais, derrete estruturas econômicas com a mesma velocidade que as calotas glaciais. E assim, o tempo é um luxo que poucas espécies podem contar em seu processo de adaptação ao novo meio-ambiente.

O que diria o Sr. Charles Darwin sobre esta nova realidade?

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